AGENTE ETIOLÓGICO
O agente etiológico da
tricomoníase é o Trichomonas vaginalis,
um protozoário anaeróbio facultativo, cosmopolita, ou seja, encontrado
mundialmente. Seu corpo possui quatro flagelos e uma membrana ondulante ântero
– lateral, que auxiliam na locomoção, além disso possui uma estrutura que
percorre sua extensão corporal sendo proeminente na parte posterior, o
axostilo, que auxilia na sustentação do corpo.
O T. vaginalis possui forma oval medindo em média 15µm e seu núcleo
está localizado próximo aos flagelos. Não possui mitocôndrias, alimenta-se por
fagocitose ou osmose. Sua reprodução dá-se por divisão binária, se desenvolvendo
muito bem em meio úmido com pH que varia de ácido a neutro (4,9 a 7,5) e com
temperaturas de 35º a 37º C. No organismo feminino ele pode alojar-se na mucosa
vaginal e na uretra e no organismo masculino pode alojar-se na uretra, no
prepúcio e até na próstata.
A
tricomoníase é causada por um parasito que se apresenta de formas variáveis,
possui capacidade de se preservar durante as alterações (pH e temperatura) que
podem ocorrer no ambiente vaginal fazendo uso do glicogênio que armazena. Não
acomete boca e intestino e não sobrevive fora do sistema urogenital.
VETOR/HOSPEDEIRO
A principal forma de propagação do
protozoário é através de secreções durante o contato sexual. O ser humano é o
vetor e hospedeiro obrigatório do T.
vaginalis, a mulher funciona como reservatório e em casos de infecção
crônica, a condição de reservatório também pode ser atribuída ao homem.
BREVE HISTÓRICO EPIDEMIOLÓGICO
A espécie Trichomonas vaginalis, patogênica, foi descrita
pela primeira vez em 1836, por Donné, que a isolou de uma mulher com vaginite.
Em 1894, Marchand e, independentemente, Miura (1894) e Dock (1896), observaram
este flagelado na uretrite de um homem.
A tricomoníase é uma doença venérea,
corresponde há cerca de 1/3 das vaginites diagnosticadas, tem prevalência alta
nos grupos de nível socioeconômico baixo. O T.
vaginalis pode sobreviver por mais de 7 dias sob o prepúcio do homem sadio,
após o coito com a mulher infectada. A transmissão ocorre quando os tricomonas,
durante a ejaculação, saem da mucosa uretral e são levados pelo esperma até a
vagina. O protozoário pode ser encontrado em toalhas, roupas de cama, assentos
sanitários, água de piscinas e roupas íntimas.
O T. vaginalis infecta principalmente o epitélio
escamoso do trato genital. A doença pode apresentar desde uma manifestação
assintomática até um estado de severa inflamação. Segundo Neves (2005, p. 119)
“a
tricomoníase é a DST não-vira1 mais comum no mundo, com 170 milhões de casos
novos ocorrendo anualmente. A incidência da infecção depende de vários fatores
incluindo idade, atividade sexual, número de parceiros sexuais, outras DST’s,
fase do ciclo menstrual, técnicas de diagnóstico e condições socioeconômicas”.
Alguns
indícios levam a crer, que a triconomíase pode ocorrer em meninas, inclusive
recém-nascidas e mulheres virgens, seria a versão não venérea da doença. A
transmissão ocorreria durante a passagem pelo canal de parto, caso a mãe tiver
a infecção e não ter tomado as devidas medidas para combate-la. Segundo Neves
(2005, p.119)” aproximadamente 5% dos neonatos podem adquirir a tricomoníase
verticalmente de suas mães infectadas. Na ocasião do parto, o epitélio escamoso
da vagina da recém-nascida sofre ação de estrógenos maternos e pode permitir a
colonização do parasito”, mas, depois de determinado tempo o parasito é
eliminado do trato genital da criança.
Pouco se conhece sobre a taxa de
prevalência da infecção no organismo masculino, mas estima-se que seja 50% a
60% menor do que nas mulheres, neles a tricomoníase pode apresentar-se de forma
assintomática, sintomática leve que se assemelha com outras causas de uretrite
como as causadas por Chlamydia
trachomatis ou Neisseria gonorrhoeae,
e aguda com uretrite purulenta. Porém, podem existir complicações como
epididimite, infertilidade e prostatite (PETRIN et al., 1998; MILLER et al.,
2005; SEÑA et al., 2007).
PATOGENIA
A Triconomíase tem grande destaque em pesquisas e
diagnósticos clínicos quando se fala em DST, visto que ela pode ser
facilitadora para o contágio de vários outros patógenos, como o vírus HIV e
ainda ocasionar, inflamações pélvicas atípicas, câncer cervical e
infertilidade.
Alguns estudos relacionados comprovam que
grávidas infectadas com o T. vaginalis,
possuem alto risco de desenvolver complicações na gravidez, como por exemplo, ruptura prematura de membrana, parto prematuro,
baixo peso ao nascer, endometrite pós-parto, feto natimorto e morte neonatal
(Cotch, 1997).
Outra consequência
preocupante da infecção por T. vaginalis é
o perigo de infertilidade. O T.
vaginalis está relacionado
com doença inflamatória pélvica, pois infecta o trato urinário superior,
causando resposta inflamatória que destrói a estrutura tubária, e danifica as
células ciliadas da mucosa tubária, inibindo a passagem de espermatozoides ou
óvulos através da tuba uterina. Segundo estatísticas mulheres com mais de um
episódio de infecção têm um risco de infertilidade duas vezes maior em
comparação com as que nunca tiveram tal infecção (GROSTEIN et al., 1993; LUSK
et al., 2010).
Além das consequências
citadas anteriormente, a tricomoníase também pode facilitar a contração do
vírus HIV. Ao contrair a infecção, o organismo fica com seu sistema autoimune
comprometido o que facilita a ocorrência do vírus HIV em tal organismo.
Mulheres soropositivas estão mais propensas a infecção pelo T. vaginalis e vice versa.
CICLO
BIOLÓGICO/TRANSMISSÃO
Ciclo biológico monoxênico,
pois o ser humano é o único hospedeiro do T.
vaginalis, como já foi relatado ele é transmitido através da relação sexual
e pode sobreviver por mais de uma semana sob o prepúcio do homem sadio após o
coito com mulher infectada. O patógeno pode ser encontrado em assentos
sanitários, roupas íntimas, duchas contaminadas, pois pode sobreviver fora de
seu habitat por algumas horas se exposto a altas condições de umidades. Logo, entra
no organismo do homem ou da mulher e se aloja no trato urogenital, encontrando
condições propícias para sobrevivência o protozoário se reproduz por divisão
binária e dão origem a colônias e uma infecção estará iniciada, o período de
incubação do T. vaginalis varia entre
3 e 20 dias (Neves, 2005).
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da
tricomoníase não pode ser baseado somente na apresentação clínica, pois a
infecção poderia ser confundida com outras DST’s, visto que esse quadro de
corrimento vaginal é comum a outras doenças. Então, determina-se que o paciente
faça um exame de amostras vaginal e cervical, que são métodos de mais
sensibilidade.
A tricomoníase é geralmente
uma infecção assintomática, sendo necessária a realização de exames
laboratoriais para o seu diagnóstico. Para obter resultados eficientes, deve-se
realizar cultura de secreção ou método de reação em cadeia de polimerase, que
possuem maior sensibilidade e especificidade.
O teste de cultura é um
método excelente, porém requer tempo para identificação do parasita. Nesse
período os pacientes infectados podem estar transmitindo a infecção a outras
pessoas. O sistema de cultura InPouchTV,
sensível como o método de cultura tradicional, tem se mostrado uma alternativa
eficiente e de baixo custo (De Carli, 2001).
TRATAMENTO/PROFILAXIA
Os fármacos mais utilizados contra as infecções por T.
vaginalis são o metronidazol, tinidazol, ornidazol, nimorazol, carnidazol,
secnidazol e flunidazol (PETRIN et al., 1998; NEVES, 2005; MAVEDZENGE et al.,
2010). O tratamento padrão para
tricomoníase é de 250mg de metronidazol, via oral, três vezes ao dia durante 7
dias, ou dose única de 2 g. É importante que o parceiro também realize o
tratamento, mesmo que o mesmo não apresente sintomas, essa medida serve de
prevenção da reinfecção.
O metronidazol apresenta altas taxas de eficiência na
cura da tricomoníase, quando o mesmo falha, deve-se de uma recusa de tratamento
do parceiro ou reincidência da doença. Em gestantes, esses medicamentos,
somente devem ser utilizados pela aplicação local de cremes, geleias ou óvulos,
nunca por via oral (Neves, 2005).
Além do tratamento da tricomoníase, é importante a
prevenção da mesma. Com medidas simples pode-se evitar o contagio, por exemplo
utilizando preservativos nas relações sexuais, mantendo uma boa higiene vaginal
e de roupas íntimas e realizando sempre exames periódicos em um ginecologista.
REFERÊNCIAS
NEVES,
D.P., MELO, A.L., GENARO, O. LINARDI, P.M., VITOR, R.W.A. Parasitologia
humana,11ed. São Paulo: Atheneu, 2005, 494p.
"Trichomonas
vaginalis" TrabalhosFeitos.com. 04 2012. 2012. 04 2012
<http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Trichomonas-Vaginalis/168261.html>.
DE CARLI, G. A. Exame de outros espécimes do
trato intestinal e sistema urogenital. In: DE CARLI, G. A.Parasitologia
clínica: seleção de métodos e
técnicas de laboratório para o diagnóstico das parasitoses humanas. São Paulo: Atheneu, 2001.
p. 165-99.
GROSTEIN, F.; GOLDMAN, M.
B.; CRAMER D. W. Relation of tubal infertility to history of sexually
transmitted diseases. Am J Epidemiol, v. 137, p. 577-84, 1993.
DE CARLI, G. A. Trichomonas. In: NEVES, D. P. Parasitologia humana. São Paulo: Atheneu, 2000.
p. 101-5.
COTCH, M. F. et al. Trichomonas vaginalis associated with low birth weight and
preterm delivery. Sex Transm Dis, v. 24, p. 353-60, 1997.
FONSECA, C. G. et al. ; PASSOS, M. R. L.; Tricomoníase
Disponível em http://www.dst.uff.br/revista02-2-1990/Tricomoniase.pdf. Acessado em 23/04/2014.
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