A
história dos seres humanos, bem como as infecções que afetam a saúde dos mesmos
está intimamente relacionada à evolução cultural juntamente com as migrações,
desde o início das atividades voltadas à agricultura e a domesticação de
animais. Esses e outros fatores induziram mudanças relacionadas à dieta humana
e, consequentemente, as vias de transmissão de patógenos, inclusive as
parasitoses humanas (CHAME et al 2005).
Os
estudos acerca da parasitologia humana possui extrema importância, pois as
infecções por parasitas, principalmente intestinais, são frequentes na
população mundial. Determinados parasitas, particularmente, representam um
agravante problema de saúde pública, caracterizando síndromes de má nutrição,
deficiência de aprendizado e incapacidade funcional, principalmente em crianças
(CIMERMAN, 2005)
Os
parasitas humanos apresentam a necessidade de obtenção de nutrientes a partir
de seu hospedeiro, sendo que o relacionamento comensal não deve lesar
permanentemente o mesmo, onde as alterações e comprometimentos do
organismo poderia fazer com que perdesse o hospedeiro (BELETINE, 2012)
A transmissão das
enteroparasitoses geralmente acontece pela via fecal -oral ou penetração pela
pele, sendo que a prevalência dessas infecções é maior em países
ou regiões com condições socioeconômicas baixas e saneamento básico precário,
incluindo se o tratamento de água, esgoto, recolhimento de lixo, e também pela
falta de controle de vetores (KUNZ et al., 2008).
As infecções que mais
frequentemente acometem os seres humanos são as causadas pelos parasitas
intestinais, sendo que os que se instalam com maior frequência são Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, os ancilostomídeos Necator americanos e Ancylostoma duodenale, e os protozoários
Entamoeba histolytica/díspar e Giardia intestinalis (FERREIRA et al., 2000). Em geral, de acordo com
FREI (2008), três fatores devem estar necessariamente presentes para que ocorra
uma infecção parasitária, sendo os fatores em relação:
·
Ao hospedeiro:
estado nutricional, fatores genéticos e idade,
·
Ao parasito: mecanismos de defesa contra o sistema
imunológico do hospedeiro
·
Ao ambiente: saneamento básico e higiene.
HISTÓRICO
O Enterobius vermiculares ocorre em seres
humanos e já teve seu nome alterado algumas vezes ao longo do tempo. Segundo NEVES(2002) quem o primeiro descreveu
foi Linneu, em 1758, como Ascaris
vermicularis, sendo que em 1803 Rudolphi criou o gênero Oxyuris e Lamarck,
em 1816, passou a denominá-lo Oxyuris
vermicularis. No entanto Leach estudando novamente este helminto em 1853,
verificou que ele pertencia a um gênero distinto e o denominou de Enterobius.
Então seguindo as regras de nomenclatura zoológica o nome do verme é E. vermicularis (Linneu, 1758) Leach,
1853. Mas como a sua denominação anterior
- Oxyuris vermicularis- foi muito
difundida ele é mais conhecido como "oxiúros".
O gênero Enterobius apresenta algumas espécies
que também parasitam macacos em regiões da Ásia, África e América-sete no
total- mas que no entanto não atingem os humanos. A espécie que será analisada
aqui será a E. vermicularis, com
atuação mundial, com grande incidência nas regiões de clima temperado.
Interessantes estudos
sobre paleoparasitologia tem indicado através de exames de coprólitos (fezes petrificadas)
que o E. vermicularis (e outros
helmintos) parasitam o ser humano há milhares de anos. Nos EUA, foram
encontrados ovos em coprólitos humanos datados de 10.000 anos; no Chile, foram
vistos ovos de E. vermicularis, com
datação de aproximadamente 1.000 anos a.C., onde vivia uma população sedentária
com atividades agropastoris e conhecimento de metalurgia e tecelagem (NEVES,
2002) 291
AGENTE
ETIOLÓGICO
Como já foi mencionado o agente etiológico da oxiurose
é o Enterobius vermicularis ou Oxyuris vermicularis. Esta doença pode
ter outros nomes como populares como: enterobíase, enterobiose, oxiurose, bicho-de-bolsa,
comichão ou caseira.
Morfologia
Geral
O dimorfismo sexual está presente no E. vermicularis, sendo que algumas características
são comuns aos dois sexos como a cor branca e sua forma afilada. Na extremidade
anterior, lateralmente à boca, notam-se expansões vesiculosas muito típicas,
chamadas "asas cefálicas". A boca é pequena, seguida de um esôfago
também típico, grosso em uma extremidade e afina na outra culminando em um
bulbo cardíaco (NEVES, 2002).
Morfologia
Fêmea
Ovos do
verme causador da Enterobiose
|
Tem
cerca de 1 cm de comprimento por 0,4mm de diâmetro, com uma calda longa e
pontiaguda. Possui dois úteros que estão ligados a uma curta vagina, cada ramo uterino
se comunica com o oviduto e ovário. O Ovo posto pela fêmea mede cerca de 50μm x 20 μm de largura.
Possui uma forma que lembra a letra D, com um dos lados ligeiramente achatado e
o outro convexo. Tem uma membranas dupla, lisa e transparente. Quando a fêmea o
despeja a larva já está no interior do ovo
Morfologia
do Macho
Mede cerca de 5mm de
comprimento por 0,2 mm de diâmetro, com uma curva bem acentuada na cauda e com
um único testículo.
HOSPEDEIRO
O homem é o hospedeiro definitivo do Enterobius
vermicularis sendo encontrados
no ceco e apêndice, tanto machos quanto fêmeas. No entanto as fêmeas quando repletas de ovos
(5 a 16 mil ovos), são encontradas na região perianal. Em mulheres, as vezes
pode-se encontrar esse parasito na vagina, útero e bexiga.
CICLO EVOLUTIVO
Estes helmintos são monoxênico, ou seja,
tem apenas um hospedeiro para fechar o ciclo biológico, no caso o homem, e os
machos logo são eliminados nas fezes após a cópula. Quando os ovos de Oxyuros
vermicularis são ingeridos ou inalados e posteriormente chegam ao duodeno,
onde dão origem a larvas rabditóides, se
assemelham a um bastão, que começam a se desenvolver e crescer passando por
vários processos até chegar a forma adulta do verme; estes completam seu desenvolvimento
no intestino grosso; os vermes copulam e as fêmeas cheias de ovos migram do
ceco para o reto; durante a noite geralmente atravessam o ânus, ficando algumas
presas na região perineal. Segundo
NEVES( 2002) Alguns autores suspeitam que elas realizam oviposição na região
perineal, mas a maioria afirma que a fêmea não é capaz de fazer postura dos
ovos; os mesmos seriam eliminados por rompimento da fêmea, devido a algum
traumatismo ou ressecamento. Como ela se assemelha a um "saco de ovos",
com a cutícula extremamente distendida, parece que o rompimento da mesma se
toma fácil. Essas fêmeas presas se ressecam e morrem. Seus corpos então se
rompem, libertando os milhares de ovos. Assim se completa a vida do helminto,
todo esse processo dura de 35 a 50 dias.
MODOS DE TRANSMISSÃO
A
infecção deste helminto se dá de várias maneiras, podendo ocorrer de forma
direta e de forma indireta. Segundo NEVES,( 2002 ) os mecanismos de transmissão
do Enterobius vermicularis podem ser por :
·
Heteroinfecção: quando ovos presentes na
poeira ou alimentos atingem novo hospedeiro (é também conhecida como
primoinfecção);
·
Indireta: quando ovos presentes na
poeira ou alimentos atingem o mesmo hospedeiro que os eliminou;
·
Auto-infecção externa ou direta: a
criança (frequentemente) ou o adulto (raramente) levam os ovos da região
perianal a boca. E o principal mecanismo responsável pela cronicidade dessa
verminose;
·
Auto-infecção interna: parece ser um
processo raro no qual as larvas eclodiriam ainda dentro do reto e depois migrariam
até o ceco, transformando-se em vermes adultos;
·
Retroinfecção: as larvas eclodem na
região perianal (externamente), penetram pelo ânus e migram pelo intestino
grosso chegando até o ceco, onde se transformam em vermes adultos.
Este
parasito requer uma atenção maior com relação aos infectados uma vez que
adquirido este parasito o mesmo pode ser encontrado em roupas intimas e até nas
roupas de cama devendo assim evitar o contato com roupas íntimas do corpo ou da
cama contaminadas.
PATOGENIA
Por vezes os casos são assintomáticos
passando desapercebido pelo infectado. Na maioria dos casos, o parasitismo
passa despercebido pelo paciente, só vindo a perceber a presença do parasito
quando sente um desconforto, um ligeiro prurido anal, geralmente a noite, ou
quando o mesmo chega a ser avistado nas fezes. O ceco apresenta-se inflamado e,
as vezes, o apêndice também é atingido. A alteração mais intensa e mais
frequente é o prurido anal. A mucosa local mostra-se congesta, recoberta
de muco contendo ovo e, as vezes, fêmeas inteiras. O ato de coçar a região anal
pode lesar ainda mais o local, possibilitando infecção bacteriana secundária. O
prurido ainda provoca perda de sono, nervosismo e, devido à proximidade dos
órgãos genitais, pode levar à masturbação e erotismo, principalmente em
meninas. A presença de vermes nos órgãos genitais femininos pode levar a
vaginite, metrite, salpingite e ovarite.
Fora do Brasil, alguns raros casos de granulomas
por ovos de E. vermicularis já foram
assinalados, sendo dois no fígado, um no rim e um na próstata. No primeiro, os
vermes chegaram ao fígado perfurando a parede cecal e caindo no sistema portanto,
atingindo aquele órgão; nos dois últimos casos, o caminho foi pela uretra. A
perfuração do íleo, pelo parasito, apesar de rara, tem sido relatada.
Manifestações digestivas: são raras na maioria dos casos, geralmente são
resultantes da fixação dos vermes na mucosa intestinal podendo causar dor
abdominal; diarreia e náuseas e vômitos.
DIAGNÓSTICO
Clínico
O prurido anal noturno e continuado pode
levar a uma suspeita clínica de enterobiose
Laboratorial
Segundo NEVES ( 2002) o exame de fezes não
funciona para essa verminose intestinal sendo que o melhor método é o da fita
adesiva (transparente) ou método de Graham, que é descrito a seguir: corta-se
um pedaço de 8 a 10cm de fita adesiva transparente; coloca-se a mesma com a
parte adesiva para fora, sobre um tubo de ensaio ou dedo indicador (nesse
último caso, é perigoso pela possível contaminação do executor do método);
apõe-se várias vezes a fita na região perianal; coloca-se a fita (como se fosse
uma lamínula) sobre uma lâmina de vidro; leva-se ao microscópio e examina-se
com aumento de 10 e 40x. Essa técnica deve ser feita ao amanhecer, antes
de a pessoa banhar-se, e repetida em dias sucessivos, caso dê negativo. Caso a
lâmina não possa ser examinada no mesmo dia, a mesma deverá ser conservada em
geladeira, devidamente embalada em papel-alumínio. Com toda esta dificuldade do
diagnóstico clínico devido as
características biológicas da fêmea do E.
vermicularis,
tornam a enterobiose bastante peculiar, já que raramente aparecem ovos do verme
em exames coproparasitológicos de rotina e os métodos de diagnostico na região
perianal, como o citados por NEVES 2002, são invasivos e constrangedores. Por
tudo isto, TEIXERA et al (2013)
desenvolveu um procedimento que se baseia primeiramente na sintomatologia da
parasitose, e utilizando um método menos invasivo para identificação de
parasitados, usando pra isto o material do leito subungueal que seria o
material depositado na parte de baixo das unhas. A metodologia foi aprovada
Comitê de Ética e Pesquisa da UEPG, parecer nº100/2011.
EPIDEMIOLOGIA
Essa helmitose tem alta prevalência nas
crianças em idade escolar. E de transmissão eminentemente doméstica ou de
ambientes coletivos fechados (creches, asilos, enfermarias infantis etc.). Os
fatores responsáveis por essas situações são:
· Somente
a espécie humana alberga o E. vermicularis;
· Fêmeas
eliminam grande quantidade de ovos na região perianal;
· Os
ovos em poucas horas se tornam infectantes, podendo atingir os hospedeiros por
vários mecanismos (direto, indireto, retroinfecção);
· Os
ovos podem resistir até três semanas em ambiente domésticos, contaminando
alimentos e tudo que possa servir de suporte.
· O
hábito de, pela manhã, se sacudir roupas de cama ou de dormir pode disseminar
os ovos no domicílio.
PROFILAXIA
Para se prevenir a doença é necessário
que se observem meticulosos cuidados higiênicos, especialmente com as mãos e
que se eliminem as fontes de infecção, através do tratamento dos parasitados.
Medidas sanitárias:
· Instalação
de Postos de Saúde em áreas carentes.
· Campanhas
preventivas por parte do governo.
· Educação
sanitária e de higiene por parte dos agentes comunitários.
· Métodos
de transmissão deverão ser explicados aos familiares, e instituídos antes do
tratamento.
Medidas gerais:
Higiene
corporal rigorosa; quando a família utiliza esponja para o banho, essa deve ser
individual e não coletiva.
· Manter o
corpo sempre asseado e limpo.
· Trocar as
roupas de cama frequentemente.
· As roupas
do portador devem ser trocadas diariamente e não devem ser colocadas no
roupeiro, devem ser colocadas num saco para posteriormente serem lavadas
separadamente e passadas com o ferro bem quente.
· Limpeza
dos dormitórios ou quartos diariamente.
· Não se
deve sacudir os lençóis da cama, estes devem ser enrolados e retirados da cama
para serem lavados separadamente, nunca junto com as roupas do restante da
casa.
· Assentos
das privadas devem ser lavados diariamente com desinfetante; quando o portador
é um adulto logo após usar o assento pode passar um pouco de álcool a 70% no
local.
· Manter as
unhas sempre limpas e aparadas; evitar roer as unhas.
· Lavar as
mãos; as unhas devem ser escovadas pela manhã ao levantar e depois de cada
evacuação.
· Lavar as
mãos antes de pegar em alimentos, frutas e antes das refeições.
· Lavar as
mãos frequentemente durante o período de tratamento.
· Não andar
descalço.
· Evitar
coçar a região anal quando se é portador de vermes.
· Lavar as
mãos e as nádegas das crianças quando acordarem e depois de evacuarem.
· Crianças
que usam fraldas, de preferência nessa fase devem ser usadas as fraldas
descartáveis.
· Crianças
pequenas devem dormir com um macacão para dificultar a contaminação dos dedos.
· A pessoa
infectada deve dormir sempre sozinha.
· Adulto
responsável deve evitar relação sexual quando está em tratamento, para não
contaminar seu parceiro ou parceira
TRATAMENTO
Os medicamentos mais utilizados são os
mesmos em Eegados contra o A. lumbricoides (ver Cap. 29). Pamoato
de Pirantel (Combantrin, Piranver); o medicamento é apresentado sob a forma
líquida e comprimidos; a dose indicada é de l0mgkg em dose única, com eficácia
de 80-100% de cura. Os efeitos colaterais são náuseas e vômitos, cefaleias,
sonolência e erupção cutânea; contra-indicação: Gravidez e disfunção hepática.
Albendazol (Zentel): o medicamento é apresentado sob
a forma líquida (suspensão contendo 40mglml e comprimidos 200mg); a dose
indicada para tratamento da enterobiose, em crianças acima de 2 anos, é de
100mg em dose única, com eficácia próxima a 100% de cura. Os efeitos colaterais
são náuseas, vômitos, cefaleias, podendo ou a desconforto gastrintestinais.
Atualmente, tem sido utilizado como droga de escolha, na terapêutica de algumas
helmitoses humanas. Entretanto, por ser um derivado benzilmidazólico, em
estudos experimentais, foi comprovada sua ação teratogênica e embriotóxica. Não
deve ser administrada durante a gravidez.
Ivermectina (Revectina): o medicamento é
apresentado sob a forma de comprimidos de 6mg; a dose indicada é de 200pgk em
dose única, para pacientes com mais de 15kg de peso corporal, com eficácia
acima de 85% de cura; entretanto, há uma tendência de se utilizar o fármaco em
dois dias consecutivos, aumentando assim o porcentual de cura. Como é uma nova
formulação para uso humano, os efeitos colaterais ainda são pouco conhecidos,
mas existem relatos de náuseas, vômitos, cefaleias, pruridos, tonturas e
astenia, podendo o paciente apresentá-los concomitantemente. Deve-se ressaltar
que a ivermectina, por atuar primariamente em receptores GABAérgicos, é
contra-indicada em pacientes com alterações do SNC (principalmente meningite
que afeta a barreira hematoencefálica), durante a gravidez e amamentação.
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Trabalho feito por Beatriz Mesquita Nunes e Suellen Alves Lages
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