Doença
As parasitoses intestinais marcam um sério problema de
saúde pública de caráter mundial, variam em função das condições climáticas,
ambientais, e do grau de desenvolvimento socioeconômico, tendo alta prevalência
em países em desenvolvimento. No Brasil, essas doenças ocorrem nas diversas
regiões do país, seja em zona rural ou urbana e em diferentes faixas etárias,
devido à falta de saneamento básico.
A maioria desses parasitas
causa desnutrição, anemia, diarréia, obstrução intestinal e má absorção. No que
se refere às doenças parasitárias intestinais, estas acometem principalmente
crianças em idade escolar, o que pode comprometer seu desenvolvimento físico e
intelectual. (OGLIARI E SATURNINO apud SILVA et
al, 2011).
Dentre doenças parasitárias intestinais, destaca-se a
ascaridíase, helmintíase de maior dominância no mundo causada pelo nematoide
chamado Ascaris lumbricoides (Melo
2004). Conhecido popularmente como lombriga, causa uma doença conhecida como
ascaridíase ou ascariose. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou em 2008
que mais de 980 milhões de pessoas no mundo estariam parasitadas por esse
agente. A cada ano é responsável por aproximadamente 60.000 óbitos decorrentes
de infecções por Ascaris lumbricoides
(Who, 2004 apud Viana, 2007).
A ascaridíase é uma doença parasitária do homem que é
causada por um helminto que geralmente não causa sintomatologia. Mas, em certos
casos graves,pode ocorrer um quadro de obstrução intestinal com um grande
número de vermes, alguns pacientes apresentam manifestações pulmonares com
broncoespasmo, hemoptise e pneumonite, caracterizando a síndrome de Löefler,
que cursa com eosinofilia (aumento da concentração de eosinófilos no sangue)
importante.
Agente etiológico
Ascaris
lumbricoides
Morfologia
Reino:
Animalia
Filo:
Nematoda
Classe:
Secernentea
Ordem:
Ascaridida
Família:
Ascarididae
Gênero:
Ascaris
Espécie:
Ascaris lumbricóides
Fig
1.Exemplares adultos fêmea e macho Ascaris
lumbricoides Disponível em: http://monitoria-parasito.blogspot.com.br/2010/06/nematoda-familias-ascarididae-oxyuridae.html
É um enteroparasita cilíndrico de grandes dimensões,
segundo Crompton (2001) apud Silva (2007) “os exemplares podem apresentar de 12
a 30 cm de comprimento e medir de 2 a 4 mm de diâmetro, já as fêmeas podem
atingir de 20 a 35 cm de comprimento e seu diâmetro varia entre 3 a 6 mm quando
há parasitismo intenso e o hospedeiro abriga centenas de Ascaris, o tamanho médio é menor.
Fig.
2- Ovo de Ascaris lumbricóides. Disponível em:
http://monitoria-parasito.blogspot.com.br/2010/06/nematoda-familias-ascarididae-oxyuridae.html
O ovo cor
castanha, grande (~60 micrômetros), oval ou esférico, com cápsula espessa
constituída por membrana externa mamilonada (composta de mucopolissacarídeos),
membrana média (quitina + proteína) e outra mais interna, delgada e impermeável
à água (lipídios + proteínas). Internamente, há uma massa de células
germinativas.
Habitat
Os vermes adultos vivem em aproximadamente de 6 a 18
meses. Seu habitat natural é a luz do intestino, na região do jejuno, onde
ingerem partículas alimentares e absorvem água, ambos provenientes do quimo
alimentar e vivem em anaerobiose. (Bethony 2006 apud Viana 2007)
Agente transmissor
Não existe agente transmissor. A transmissão se dá por ovos
embrionados contendo larvas de terceiro estágio do verme Ascaris lumbricoides.
Hospedeiros
Homem:
o verme habita o intestino delgado (principalmente jejuno e
íleo).
Breve Histórico
Segundo Mckerrow(2005) apud Viana(2007) o termo parasita
deriva da clássica palavra grega que é utilizada para se referir a “pessoa que vem para jantar e não parte mais”
(Clitodemus, em Athenaeus Grammaticus, 378 A. C.), “atualmente é utilizado para se referir aos organismos eucarióticos
desde os protozoários unicelulares até os representantes multicelulares tais
como Ascaris lumbricóides.”.
A contaminação humana por
enteroparasitos é uma ocorrência de milhares de anos. A análise
paleoparasitológica com múmias humanas tem confirmado o quanto o parasitismo humano
é antigo. Pesquisas feitas na América do Sul em estudos arqueológicos têm
demonstrado a presença de ancilostomídeos, Ascaris lumbricóides (A.
lumbricoides), Tricuristrichiura (T. trichiura), dentre outros, em coprolitos e
em outros materiais orgânicos. Gonçalves et al (2003) apud Orlandini (2009).
Segundo Khurro (1996) apud Viana (2007), a origem da
Ascaridíase data desde o aparecimento do homem, sendo a mais antiga
helmintíase, onde sua ocorrência também é descrita em manuscritos originais da
Mesopotâmia, Grécia, Roma e China. Em 1758 foi realizada por Linnaeus a
primeira descrição do gênero Ascaris (do grego askaris = ver) seguido por
relatos de Davine (1877), Epstain (1892) e Grasse (1877).
A ascaridíase é a parasitose que mais infecta,
aproximadamente um quarto da população mundial (Bethony 2006 apud Viana 2007).
É encontrada principalmente em países subdesenvolvidos e de clima tropical e
subtropical. O Ascaris lumbricoides é
um enteroparasita de grandes dimensões.
Ciclo Biológico
Fig.
3- Ciclo Biológico da ascaridíase. Disponível em: http://setimocientista.blogspot.com.br/2014/04/nematoides.html
Segundo PESSÔA (1982) apud Viana (2007) o ciclo de circuito
direto, sem reservatório intermediário, uma vez que o parasita é monoxênico (possui
um único hospedeiro), compreendido de duas fases: uma externa e uma interna.
-externa: se efetua sobre o solo e termina com a formação
de elementos infectantes.
-interna: se desenvolve no hospedeiro, conduzindo o verme
à sua maturidade.
Dentro do intestino humano (hospedeiro), os vermes se
reproduzem sexuadamente. As fêmeas fecundadas põem seus ovos e, juntamente com
as fezes, eles são eliminados no ambiente, que em condições propícias se forma
a primeira larva do tipo rabditóide, essa larva sofre, no interior do ovo, e se
transforma em uma segunda larva rabditóide infectante. A ingestão de água ou
alimento contaminado pode introduzir ovos de Ascaris lumbricoides no tubo digestório humano.
Quando esses ovos contendo a forma infectante chegam ao
intestino delgado, cada ovo se rompe e libera uma larva. Cada larva penetra no
revestimento intestinal e cai na corrente sanguínea, atingindo fígado, coração
e pulmões, onde sofre algumas mudanças de cutícula e aumenta de tamanho. Chegam aos
alvéolos pulmonares podendo causar sintomas semelhantes ao de pneumonia. Uma
nova muda ocorre, a larva aumenta de tamanho e adquire resistência ao suco
gástrico, ao abandonar os alvéolos passam para os brônquios, traquéia, laringe
(onde provocam tosse com o movimento que executam) e faringe.
São deglutidos e novamente retornam ao intestino. No trato intestinal a
larva se desenvolve e sofre nova muda, originando jovem adulto. Após o
acasalamento, a fêmea inicia a liberação dos ovos. Cerca de 15.000 por dia. Os
ovos são eliminados pelas fezes. Todo esse ciclo que começou com a ingestão de
ovos, até a formação de adultos, dura cerca de dois meses.
Patogenia
A ascaridíase pode desencadear processos de agressão ao
hospedeiro. Esse dano é conferido ao verme, porque este produz substâncias
responsáveis por agressões tóxicas do tipo anafilático. Segundo Herrera& Meneses(2005)
apud Viana(2007), essa agressão desencadeia um quadro de eosinofilia pulmonar
aguda compatível com a Síndrome de Loeffler. Esta manifestação é acompanhada
por complicações cirúrgicas da ascaridíase ou se instala após tratamento
farmacológico intenso.
As larvas podem originar lesões teciduais diretamente ou
decorrente de uma resposta inflamatória. As larvas que penetram no tecido do
intestino delgado e morrem causam pequenos processos hemorrágicos. O parasita
também pode causar um estado de subnutrição do paciente, comprometendo o estado
físico e mental do hospedeiro.
Segundo Shahet et al., (2005) apud Viana (2007), a
presença de vermes de Ascaris lumbricoides
na luz entérica pode desencadear “ um processo e agressão mecânica no exato
momento em que se formam bolos parasitários, os quais em pacientes altamente
infectados pode levar a um estado de obstrução intestinal.
Epidemiologia
A ascaridíase infecta o homem com mais frequência em
países em desenvolvimento e de clima tropical, subtropical e temperado. Segundo
Ribeiro & Rooke (2010) a forma mais adequada de evitar grande parte de tais
doenças é cuidando da higiene, da limpeza do ambiente e da alimentação. As más
condições de higiene e saneamento básico colaboram eficazmente para a
dominância dessa doença nos países subdesenvolvidos.
Diversos fatores de interferem na prevalência da
parasitose que segundo Campos (2002) são:
área geográfica estudada, tipo de comunidade (aberta ou fechada), nível
socioeconômico, acessibilidade a bens e serviços, estado nutricional, idade e
ocorrência de predisposição à infecção parasitária.
Faixa etária
A ocorrência da doença é alta em todas
as faixas etárias, de criança até indivíduos adultos. Segundo Khurro (1996) apud Viana (2007)
numa região endêmica “a prevalência por
faixa etária permanece crescente até os três primeiros anos de vida, seguido de
certo grau de manutenção na faixa compreendida de 4 a 14 anos de idade e decai
com o envelhecimento”.
Segundo Costa-Macedo (1999) no Brasil, o
parasitismo intestinal nos dois primeiros anos de vida é menos conhecido que em
outras faixas etárias.Uma possível explicação para a prevalência negativa do parasitismo
abaixo dos seis meses de idade pode estar relacionada à hipótese de Carlier&Truyens
(1995) apud Costa-Macedo (1999) “que
sugere o envolvimento de respostas imunológicas em filhos de mães imunes com
uma proteção inicial contra a infecção por conta da transferência de anticorpos
maternos contra Ascaris lumbricoides”.
Aspectos geográficos
As helmintoses têm ampla distribuição geográfica. A
ascaridíase é considerada uma doença cosmopolita devido ao seu padrão de
acometimento em áreas endêmicas e sua infestação serem mais comum em países
subdesenvolvidos de clima temperado e subtropical justamente por oferecerem
ambientes higiênico-sanitários propícios para o verme.
Região
|
América
Latina e Caribe
|
África
Subsaariana
|
Oriente
Médio e África do Sul
|
Sul
Asiático
|
Índia
|
Ásia e
Ilhas Pacíficas
|
China
|
Total
|
Milhões
de casos
|
84
|
173
|
23
|
97
|
140
|
204
|
86
|
807
|
Quadro1:
Estimativa mundial do número de infeção por Ascaris Lumbricoides por reação (milhões
de casos) (BETHONY (2006) apud VIANA(2007))
Transmissão
Fig.
4-Forma larvária rabditóide infectante. Disponível em: http://www.proprofs.com/flashcards/cardshowall.php?title=Parasitology-Identification-1
A ascaridíase é transmitida através da ingestão dos ovos
infectantes (embrionados contendo larvas de terceiro estágio) do parasita,
procedentes do solo, água ou alimentos contaminados com fezes de outro
hospedeiro.
Segundo Neves (2005) a literatura registra grande número
de artigos que avaliam a contaminação das águas de córregos que são utilizadas
para irrigação de hortas levando a contaminação de verduras com ovos viáveis.
Poeira, aves e insetos (moscas e baratas) são capazes de veicular mecanicamente
ovos de A. lumbricoides.
Diagnóstico
Clínico
A maioria das infecções é assintomática,
e corresponde a um grau de infestação moderada. Os sintomas vão se manifestar de acordo com o
grau de invasão ou quando as formas parasitárias se tornam adultas. A presença
do parasita causa dores abdominais, diarréia, náuseas, vômitos, flatulência
entre outros. Podem causar alterações físicas (subnutrição) e neurológicas
(insônia, ansiedade entre outros).
Laboratorial
Análise as fezes através de exames
parasitológicos de fezes, em busca de ovos. As técnicas mais utilizadas para a
realização do exame parasitológico de fezes são os de sedimentação como Lutz,
Faust e Kato-Katz devido ao fato de os ovos de áscaris serem pesados.
Tratamento
O tratamento baseia-se, essencialmente, na utilização de
anti-helmínticos. São altamente eficazes Segundo Neves (2005) apud Silva (2007)
os anti-helmínticos são utilizados para erradicar ou para reduzir o número de
helmintos parasitas no trato intestinal. São altamente eficazes, onde o
mebendazol é indicado como primeira escolha, mas de medicação semelhante como o
albendazol, piperazina e levamisol tem também alta eficácia (são muito eficazes
e possuem um menor efeito secundário, pois atuam apenas na luz intestinal podendo
ser necessária a administração de corticosteroides).
Segundo Neves (2005) a Organização Mundial da Saúde
recomenda quatro drogas- albendazol, mebendazol, levamisol e pamoato depirantel
- para o tratamento e controle de helmintos transmitidos pelo solo.Os pacientes
graves e com complicações, há casos que necessitam de tratamento cirúrgico
juntamente com administração medicamentosa.
Profilaxia
As medidas a serem tomadas estão
respaldadas no controle da transmissão dos ovos do parasita, com práticas de
educação sanitária, saneamento básico de qualidade, hábitos de higiene pessoal
e tratamento periódico dos doentes durante três anos consecutivos.
A população sem saneamento básico deve
evitar o contato com solo que tenha sido contaminado com fezes, não defecar ao
ar livre, lavar bem as mãos antes das refeições, deve ferver e filtrar a água a
ser utilizada para lavar ou cozinha alimentos crus e frutas antes de comê-los.
Brasil.
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Acessado em 17/04/2014.
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Farmacologia) - Universidade Federal do Ceará. Faculdade de Medicina,
Fortaleza, 2007.
Trabalho feito por Francisca
Kamila de Oliveira Fontenele e Flávia
Letícia Vieira Rodrigues
SLIDES ASCARIDÍASE
SLIDES ASCARIDÍASE
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