16 de jul. de 2014

TRICOMONÍASE



AGENTE ETIOLÓGICO

O agente etiológico da tricomoníase é o Trichomonas vaginalis, um protozoário anaeróbio facultativo, cosmopolita, ou seja, encontrado mundialmente. Seu corpo possui quatro flagelos e uma membrana ondulante ântero – lateral, que auxiliam na locomoção, além disso possui uma estrutura que percorre sua extensão corporal sendo proeminente na parte posterior, o axostilo, que auxilia na sustentação do corpo.
O T. vaginalis possui forma oval medindo em média 15µm e seu núcleo está localizado próximo aos flagelos. Não possui mitocôndrias, alimenta-se por fagocitose ou osmose. Sua reprodução dá-se por divisão binária, se desenvolvendo muito bem em meio úmido com pH que varia de ácido a neutro (4,9 a 7,5) e com temperaturas de 35º a 37º C. No organismo feminino ele pode alojar-se na mucosa vaginal e na uretra e no organismo masculino pode alojar-se na uretra, no prepúcio e até na próstata. 
A tricomoníase é causada por um parasito que se apresenta de formas variáveis, possui capacidade de se preservar durante as alterações (pH e temperatura) que podem ocorrer no ambiente vaginal fazendo uso do glicogênio que armazena. Não acomete boca e intestino e não sobrevive fora do sistema urogenital.

VETOR/HOSPEDEIRO

A principal forma de propagação do protozoário é através de secreções durante o contato sexual. O ser humano é o vetor e hospedeiro obrigatório do T. vaginalis, a mulher funciona como reservatório e em casos de infecção crônica, a condição de reservatório também pode ser atribuída ao homem.



BREVE HISTÓRICO EPIDEMIOLÓGICO

A espécie Trichomonas vaginalis, patogênica, foi descrita pela primeira vez em 1836, por Donné, que a isolou de uma mulher com vaginite. Em 1894, Marchand e, independentemente, Miura (1894) e Dock (1896), observaram este flagelado na uretrite de um homem.
A tricomoníase é uma doença venérea, corresponde há cerca de 1/3 das vaginites diagnosticadas, tem prevalência alta nos grupos de nível socioeconômico baixo. O T. vaginalis pode sobreviver por mais de 7 dias sob o prepúcio do homem sadio, após o coito com a mulher infectada. A transmissão ocorre quando os tricomonas, durante a ejaculação, saem da mucosa uretral e são levados pelo esperma até a vagina. O protozoário pode ser encontrado em toalhas, roupas de cama, assentos sanitários, água de piscinas e roupas íntimas.
O T. vaginalis infecta principalmente o epitélio escamoso do trato genital. A doença pode apresentar desde uma manifestação assintomática até um estado de severa inflamação. Segundo Neves (2005, p. 119) “a tricomoníase é a DST não-vira1 mais comum no mundo, com 170 milhões de casos novos ocorrendo anualmente. A incidência da infecção depende de vários fatores incluindo idade, atividade sexual, número de parceiros sexuais, outras DST’s, fase do ciclo menstrual, técnicas de diagnóstico e condições socioeconômicas”.
Alguns indícios levam a crer, que a triconomíase pode ocorrer em meninas, inclusive recém-nascidas e mulheres virgens, seria a versão não venérea da doença. A transmissão ocorreria durante a passagem pelo canal de parto, caso a mãe tiver a infecção e não ter tomado as devidas medidas para combate-la. Segundo Neves (2005, p.119)” aproximadamente 5% dos neonatos podem adquirir a tricomoníase verticalmente de suas mães infectadas. Na ocasião do parto, o epitélio escamoso da vagina da recém-nascida sofre ação de estrógenos maternos e pode permitir a colonização do parasito”, mas, depois de determinado tempo o parasito é eliminado do trato genital da criança.
            Pouco se conhece sobre a taxa de prevalência da infecção no organismo masculino, mas estima-se que seja 50% a 60% menor do que nas mulheres, neles a tricomoníase pode apresentar-se de forma assintomática, sintomática leve que se assemelha com outras causas de uretrite como as causadas por Chlamydia trachomatis ou Neisseria gonorrhoeae, e aguda com uretrite purulenta. Porém, podem existir complicações como epididimite, infertilidade e prostatite (PETRIN et al., 1998; MILLER et al., 2005; SEÑA et al., 2007).


PATOGENIA

A Triconomíase tem grande destaque em pesquisas e diagnósticos clínicos quando se fala em DST, visto que ela pode ser facilitadora para o contágio de vários outros patógenos, como o vírus HIV e ainda ocasionar, inflamações pélvicas atípicas, câncer cervical e infertilidade.
Alguns estudos relacionados comprovam que grávidas infectadas com o T. vaginalis, possuem alto risco de desenvolver complicações na gravidez, como por exemplo, ruptura prematura de membrana, parto prematuro, baixo peso ao nascer, endometrite pós-parto, feto natimorto e morte neonatal (Cotch, 1997).
Outra consequência preocupante da infecção por T. vaginalis é o perigo de infertilidade. O T. vaginalis está relacionado com doença inflamatória pélvica, pois infecta o trato urinário superior, causando resposta inflamatória que destrói a estrutura tubária, e danifica as células ciliadas da mucosa tubária, inibindo a passagem de espermatozoides ou óvulos através da tuba uterina. Segundo estatísticas mulheres com mais de um episódio de infecção têm um risco de infertilidade duas vezes maior em comparação com as que nunca tiveram tal infecção (GROSTEIN et al., 1993; LUSK et al., 2010).
Além das consequências citadas anteriormente, a tricomoníase também pode facilitar a contração do vírus HIV. Ao contrair a infecção, o organismo fica com seu sistema autoimune comprometido o que facilita a ocorrência do vírus HIV em tal organismo. Mulheres soropositivas estão mais propensas a infecção pelo T. vaginalis e vice versa.


CICLO BIOLÓGICO/TRANSMISSÃO




Ciclo biológico monoxênico, pois o ser humano é o único hospedeiro do T. vaginalis, como já foi relatado ele é transmitido através da relação sexual e pode sobreviver por mais de uma semana sob o prepúcio do homem sadio após o coito com mulher infectada. O patógeno pode ser encontrado em assentos sanitários, roupas íntimas, duchas contaminadas, pois pode sobreviver fora de seu habitat por algumas horas se exposto a altas condições de umidades. Logo, entra no organismo do homem ou da mulher e se aloja no trato urogenital, encontrando condições propícias para sobrevivência o protozoário se reproduz por divisão binária e dão origem a colônias e uma infecção estará iniciada, o período de incubação do T. vaginalis varia entre 3 e 20 dias (Neves, 2005).


DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da tricomoníase não pode ser baseado somente na apresentação clínica, pois a infecção poderia ser confundida com outras DST’s, visto que esse quadro de corrimento vaginal é comum a outras doenças. Então, determina-se que o paciente faça um exame de amostras vaginal e cervical, que são métodos de mais sensibilidade.
A tricomoníase é geralmente uma infecção assintomática, sendo necessária a realização de exames laboratoriais para o seu diagnóstico. Para obter resultados eficientes, deve-se realizar cultura de secreção ou método de reação em cadeia de polimerase, que possuem maior sensibilidade e especificidade.
O teste de cultura é um método excelente, porém requer tempo para identificação do parasita. Nesse período os pacientes infectados podem estar transmitindo a infecção a outras pessoas. O sistema de cultura InPouchTV, sensível como o método de cultura tradicional, tem se mostrado uma alternativa eficiente e de baixo custo (De Carli, 2001).

TRATAMENTO/PROFILAXIA

Os fármacos mais utilizados contra as infecções por T. vaginalis são o metronidazol, tinidazol, ornidazol, nimorazol, carnidazol, secnidazol e flunidazol (PETRIN et al., 1998; NEVES, 2005; MAVEDZENGE et al., 2010).  O tratamento padrão para tricomoníase é de 250mg de metronidazol, via oral, três vezes ao dia durante 7 dias, ou dose única de 2 g. É importante que o parceiro também realize o tratamento, mesmo que o mesmo não apresente sintomas, essa medida serve de prevenção da reinfecção.
O metronidazol apresenta altas taxas de eficiência na cura da tricomoníase, quando o mesmo falha, deve-se de uma recusa de tratamento do parceiro ou reincidência da doença. Em gestantes, esses medicamentos, somente devem ser utilizados pela aplicação local de cremes, geleias ou óvulos, nunca por via oral (Neves, 2005).
Além do tratamento da tricomoníase, é importante a prevenção da mesma. Com medidas simples pode-se evitar o contagio, por exemplo utilizando preservativos nas relações sexuais, mantendo uma boa higiene vaginal e de roupas íntimas e realizando sempre exames periódicos em um ginecologista.


REFERÊNCIAS

NEVES, D.P., MELO, A.L., GENARO, O. LINARDI, P.M., VITOR, R.W.A. Parasitologia humana,11ed. São Paulo: Atheneu, 2005, 494p.
"Trichomonas vaginalis" TrabalhosFeitos.com. 04 2012. 2012. 04 2012 <http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Trichomonas-Vaginalis/168261.html>.
DE CARLI, G. A. Exame de outros espécimes do trato intestinal e sistema urogenital. In: DE CARLI, G. A.Parasitologia clínica: seleção de métodos e técnicas de laboratório para o diagnóstico das parasitoses humanas. São Paulo: Atheneu, 2001. p. 165-99. 
GROSTEIN, F.; GOLDMAN, M. B.; CRAMER D. W. Relation of tubal infertility to history of sexually transmitted diseases. Am J Epidemiol, v. 137, p. 577-84, 1993. 
DE CARLI, G. A. Trichomonas. In: NEVES, D. P. Parasitologia humana. São Paulo: Atheneu, 2000. p. 101-5.    
 COTCH, M. F. et al. Trichomonas vaginalis associated with low birth weight and preterm delivery. Sex Transm Dis, v. 24, p. 353-60, 1997. 

FONSECA, C. G. et al. ; PASSOS, M. R. L.; Tricomoníase Disponível em http://www.dst.uff.br/revista02-2-1990/Tricomoniase.pdf. Acessado em 23/04/2014.


Trabalho feito por Valéria Cardoso Saraiva e Marta Araújo de Morais

SLIDES TRICOMONÍASE

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