16 de jul. de 2014

ASCARIDÍASE



Doença
As parasitoses intestinais marcam um sério problema de saúde pública de caráter mundial, variam em função das condições climáticas, ambientais, e do grau de desenvolvimento socioeconômico, tendo alta prevalência em países em desenvolvimento. No Brasil, essas doenças ocorrem nas diversas regiões do país, seja em zona rural ou urbana e em diferentes faixas etárias, devido à falta de saneamento básico.

A maioria desses parasitas causa desnutrição, anemia, diarréia, obstrução intestinal e má absorção. No que se refere às doenças parasitárias intestinais, estas acometem principalmente crianças em idade escolar, o que pode comprometer seu desenvolvimento físico e intelectual. (OGLIARI E SATURNINO apud SILVA et al, 2011).

Dentre doenças parasitárias intestinais, destaca-se a ascaridíase, helmintíase de maior dominância no mundo causada pelo nematoide chamado Ascaris lumbricoides (Melo 2004). Conhecido popularmente como lombriga, causa uma doença conhecida como ascaridíase ou ascariose. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou em 2008 que mais de 980 milhões de pessoas no mundo estariam parasitadas por esse agente. A cada ano é responsável por aproximadamente 60.000 óbitos decorrentes de infecções por Ascaris lumbricoides (Who, 2004 apud Viana, 2007).
A ascaridíase é uma doença parasitária do homem que é causada por um helminto que geralmente não causa sintomatologia. Mas, em certos casos graves,pode ocorrer um quadro de obstrução intestinal com um grande número de vermes, alguns pacientes apresentam manifestações pulmonares com broncoespasmo, hemoptise e pneumonite, caracterizando a síndrome de Löefler, que cursa com eosinofilia (aumento da concentração de eosinófilos no sangue) importante.


Agente etiológico

Ascaris lumbricoides
Morfologia

Reino:            Animalia
Filo: Nematoda
Classe: Secernentea
Ordem: Ascaridida
Família: Ascarididae
Gênero: Ascaris
Espécie: Ascaris lumbricóides



Fig 1.Exemplares adultos fêmea e macho Ascaris lumbricoides Disponível em: http://monitoria-parasito.blogspot.com.br/2010/06/nematoda-familias-ascarididae-oxyuridae.html

É um enteroparasita cilíndrico de grandes dimensões, segundo Crompton (2001) apud Silva (2007) “os exemplares podem apresentar de 12 a 30 cm de comprimento e medir de 2 a 4 mm de diâmetro, já as fêmeas podem atingir de 20 a 35 cm de comprimento e seu diâmetro varia entre 3 a 6 mm quando há parasitismo intenso e o hospedeiro abriga centenas de Ascaris, o tamanho médio é menor.



Fig. 2- Ovo de Ascaris lumbricóides. Disponível em: http://monitoria-parasito.blogspot.com.br/2010/06/nematoda-familias-ascarididae-oxyuridae.html

O ovo cor castanha, grande (~60 micrômetros), oval ou esférico, com cápsula espessa constituída por membrana externa mamilonada (composta de mucopolissacarídeos), membrana média (quitina + proteína) e outra mais interna, delgada e impermeável à água (lipídios + proteínas). Internamente, há uma massa de células germinativas.

Habitat
Os vermes adultos vivem em aproximadamente de 6 a 18 meses. Seu habitat natural é a luz do intestino, na região do jejuno, onde ingerem partículas alimentares e absorvem água, ambos provenientes do quimo alimentar e vivem em anaerobiose. (Bethony 2006 apud Viana 2007)


Agente transmissor

Não existe agente transmissor. A transmissão se dá por ovos embrionados contendo larvas de terceiro estágio do verme Ascaris lumbricoides.


Hospedeiros

 Homem: o verme habita o intestino delgado (principalmente jejuno e íleo).

Breve Histórico

Segundo Mckerrow(2005) apud Viana(2007) o termo parasita deriva da clássica palavra grega que é utilizada para se referir a “pessoa que vem para jantar e não parte mais” (Clitodemus, em Athenaeus Grammaticus, 378 A. C.), “atualmente é utilizado para se referir aos organismos eucarióticos desde os protozoários unicelulares até os representantes multicelulares tais como Ascaris lumbricóides.”.

A contaminação humana por enteroparasitos é uma ocorrência de milhares de anos. A análise paleoparasitológica com múmias humanas tem confirmado o quanto o parasitismo humano é antigo. Pesquisas feitas na América do Sul em estudos arqueológicos têm demonstrado a presença de ancilostomídeos, Ascaris lumbricóides (A. lumbricoides), Tricuristrichiura (T. trichiura), dentre outros, em coprolitos e em outros materiais orgânicos. Gonçalves et al (2003) apud Orlandini (2009).

Segundo Khurro (1996) apud Viana (2007), a origem da Ascaridíase data desde o aparecimento do homem, sendo a mais antiga helmintíase, onde sua ocorrência também é descrita em manuscritos originais da Mesopotâmia, Grécia, Roma e China. Em 1758 foi realizada por Linnaeus a primeira descrição do gênero Ascaris (do grego askaris = ver) seguido por relatos de Davine (1877), Epstain (1892) e Grasse (1877).
A ascaridíase é a parasitose que mais infecta, aproximadamente um quarto da população mundial (Bethony 2006 apud Viana 2007). É encontrada principalmente em países subdesenvolvidos e de clima tropical e subtropical. O Ascaris lumbricoides é um enteroparasita de grandes dimensões.


Ciclo Biológico


Fig. 3- Ciclo Biológico da ascaridíase. Disponível em: http://setimocientista.blogspot.com.br/2014/04/nematoides.html

Segundo PESSÔA (1982) apud Viana (2007) o ciclo de circuito direto, sem reservatório intermediário, uma vez que o parasita é monoxênico (possui um único hospedeiro), compreendido de duas fases: uma externa e uma interna.
-externa: se efetua sobre o solo e termina com a formação de elementos infectantes.
-interna: se desenvolve no hospedeiro, conduzindo o verme à sua maturidade.
Dentro do intestino humano (hospedeiro), os vermes se reproduzem sexuadamente. As fêmeas fecundadas põem seus ovos e, juntamente com as fezes, eles são eliminados no ambiente, que em condições propícias se forma a primeira larva do tipo rabditóide, essa larva sofre, no interior do ovo, e se transforma em uma segunda larva rabditóide infectante. A ingestão de água ou alimento contaminado pode introduzir ovos de Ascaris lumbricoides no tubo digestório humano.
Quando esses ovos contendo a forma infectante chegam ao intestino delgado, cada ovo se rompe e libera uma larva. Cada larva penetra no revestimento intestinal e cai na corrente sanguínea, atingindo fígado, coração e pulmões, onde sofre algumas mudanças de cutícula e aumenta de tamanho. Chegam aos alvéolos pulmonares podendo causar sintomas semelhantes ao de pneumonia. Uma nova muda ocorre, a larva aumenta de tamanho e adquire resistência ao suco gástrico, ao abandonar os alvéolos passam para os brônquios, traquéia, laringe (onde provocam tosse com o movimento que executam) e faringe.
São deglutidos e novamente retornam ao intestino. No trato intestinal a larva se desenvolve e sofre nova muda, originando jovem adulto. Após o acasalamento, a fêmea inicia a liberação dos ovos. Cerca de 15.000 por dia. Os ovos são eliminados pelas fezes. Todo esse ciclo que começou com a ingestão de ovos, até a formação de adultos, dura cerca de dois meses.

Patogenia

A ascaridíase pode desencadear processos de agressão ao hospedeiro. Esse dano é conferido ao verme, porque este produz substâncias responsáveis por agressões tóxicas do tipo anafilático. Segundo Herrera& Meneses(2005) apud Viana(2007), essa agressão desencadeia um quadro de eosinofilia pulmonar aguda compatível com a Síndrome de Loeffler. Esta manifestação é acompanhada por complicações cirúrgicas da ascaridíase ou se instala após tratamento farmacológico intenso.
As larvas podem originar lesões teciduais diretamente ou decorrente de uma resposta inflamatória. As larvas que penetram no tecido do intestino delgado e morrem causam pequenos processos hemorrágicos. O parasita também pode causar um estado de subnutrição do paciente, comprometendo o estado físico e mental do hospedeiro.
Segundo Shahet et al., (2005) apud Viana (2007), a presença de vermes de Ascaris lumbricoides na luz entérica pode desencadear “ um processo e agressão mecânica no exato momento em que se formam bolos parasitários, os quais em pacientes altamente infectados pode levar a um estado de obstrução intestinal.

Epidemiologia

A ascaridíase infecta o homem com mais frequência em países em desenvolvimento e de clima tropical, subtropical e temperado. Segundo Ribeiro & Rooke (2010) a forma mais adequada de evitar grande parte de tais doenças é cuidando da higiene, da limpeza do ambiente e da alimentação. As más condições de higiene e saneamento básico colaboram eficazmente para a dominância dessa doença nos países subdesenvolvidos.
Diversos fatores de interferem na prevalência da parasitose que segundo Campos (2002) são: área geográfica estudada, tipo de comunidade (aberta ou fechada), nível socioeconômico, acessibilidade a bens e serviços, estado nutricional, idade e ocorrência de predisposição à infecção parasitária.

Faixa etária

A ocorrência da doença é alta em todas as faixas etárias, de criança até indivíduos adultos.  Segundo Khurro (1996) apud Viana (2007) numa região endêmica “a prevalência por faixa etária permanece crescente até os três primeiros anos de vida, seguido de certo grau de manutenção na faixa compreendida de 4 a 14 anos de idade e decai com o envelhecimento”.
Segundo Costa-Macedo (1999) no Brasil, o parasitismo intestinal nos dois primeiros anos de vida é menos conhecido que em outras faixas etárias.Uma possível explicação para a prevalência negativa do parasitismo abaixo dos seis meses de idade pode estar relacionada à hipótese de Carlier&Truyens (1995) apud Costa-Macedo (1999) “que sugere o envolvimento de respostas imunológicas em filhos de mães imunes com uma proteção inicial contra a infecção por conta da transferência de anticorpos maternos contra Ascaris lumbricoides”.


Aspectos geográficos
As helmintoses têm ampla distribuição geográfica. A ascaridíase é considerada uma doença cosmopolita devido ao seu padrão de acometimento em áreas endêmicas e sua infestação serem mais comum em países subdesenvolvidos de clima temperado e subtropical justamente por oferecerem ambientes higiênico-sanitários propícios para o verme.



Região


América Latina e Caribe


África Subsaariana


Oriente Médio e África do Sul


Sul Asiático


Índia


Ásia e Ilhas Pacíficas


China


Total
Milhões de casos

84

173

23

97

140

204

86

807

Quadro1: Estimativa mundial do número de infeção por Ascaris Lumbricoides por reação (milhões de casos) (BETHONY (2006) apud VIANA(2007))

Transmissão


Fig. 4-Forma larvária rabditóide infectante. Disponível em: http://www.proprofs.com/flashcards/cardshowall.php?title=Parasitology-Identification-1

A ascaridíase é transmitida através da ingestão dos ovos infectantes (embrionados contendo larvas de terceiro estágio) do parasita, procedentes do solo, água ou alimentos contaminados com fezes de outro hospedeiro.
Segundo Neves (2005) a literatura registra grande número de artigos que avaliam a contaminação das águas de córregos que são utilizadas para irrigação de hortas levando a contaminação de verduras com ovos viáveis. Poeira, aves e insetos (moscas e baratas) são capazes de veicular mecanicamente ovos de A. lumbricoides.

Diagnóstico

Clínico
A maioria das infecções é assintomática, e corresponde a um grau de infestação moderada.  Os sintomas vão se manifestar de acordo com o grau de invasão ou quando as formas parasitárias se tornam adultas. A presença do parasita causa dores abdominais, diarréia, náuseas, vômitos, flatulência entre outros. Podem causar alterações físicas (subnutrição) e neurológicas (insônia, ansiedade entre outros).

Laboratorial
Análise as fezes através de exames parasitológicos de fezes, em busca de ovos. As técnicas mais utilizadas para a realização do exame parasitológico de fezes são os de sedimentação como Lutz, Faust e Kato-Katz devido ao fato de os ovos de áscaris serem pesados.

Tratamento

O tratamento baseia-se, essencialmente, na utilização de anti-helmínticos. São altamente eficazes Segundo Neves (2005) apud Silva (2007) os anti-helmínticos são utilizados para erradicar ou para reduzir o número de helmintos parasitas no trato intestinal. São altamente eficazes, onde o mebendazol é indicado como primeira escolha, mas de medicação semelhante como o albendazol, piperazina e levamisol tem também alta eficácia (são muito eficazes e possuem um menor efeito secundário, pois atuam apenas na luz intestinal podendo ser necessária a administração de corticosteroides).
Segundo Neves (2005) a Organização Mundial da Saúde recomenda quatro drogas- albendazol, mebendazol, levamisol e pamoato depirantel - para o tratamento e controle de helmintos transmitidos pelo solo.Os pacientes graves e com complicações, há casos que necessitam de tratamento cirúrgico juntamente com administração medicamentosa.
Profilaxia

As medidas a serem tomadas estão respaldadas no controle da transmissão dos ovos do parasita, com práticas de educação sanitária, saneamento básico de qualidade, hábitos de higiene pessoal e tratamento periódico dos doentes durante três anos consecutivos.
A população sem saneamento básico deve evitar o contato com solo que tenha sido contaminado com fezes, não defecar ao ar livre, lavar bem as mãos antes das refeições, deve ferver e filtrar a água a ser utilizada para lavar ou cozinha alimentos crus e frutas antes de comê-los.


REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – 6. ed. – Brasília :  Ministério da Saúde, 2005. 816 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vig_epid_novo2.pdf. Acessado em 17/04/2014.

CAMPOS, Mônica Rodrigues et al. Distribuição espacial da infecção por Ascaris lumbricoides. Rev Saúde Pública, v. 36, n. 1, p. 69-74, 2002.

COSTA-MACEDO, Lêda Maria da; COSTA, Maria do Carmo Esteves da; ALMEIDA, Liz Maria de. Ascaris lumbricoides in infants: a population-basedstudy in Rio de Janeiro, Brazil. Cadernos de Saúde Pública, v. 15, n. 1, p. 173-178, 1999.

Melo MCB, Klem VGQ, Mota JAC, Penna FJ. Parasitoses intestinais. RevMed 2004; 14:3-12.

NEVES, David Pereira (Ed.). Parasitologia humana. 11. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. cap. 29.

ORLANDINI, MíriamRossane; MATSUMOTO, Leopoldo Sussumu. Prevalência de parasitoses intestinais em escolares. Monografia de Conclusão de Curso–Universidade Estadual do Norte do Paraná, 2009.

RIBEIRO, Júlia Werneck; ROOKE, Juliana Maria Scoralick. Saneamento básico e sua relação com o meio ambiente ea saúde publica. Juiz de Fora, MG, 2010.

SILVA¹, J. C., Furtado, L. F. V., Ferro, T. C., de Carvalho Bezerra, K., Borges, E. P., & Melo, A. C. F. L. (2011). Parasitismo por Ascaris lumbricoidese seus aspectos epidemiológicos em crianças do Estado do Maranhão. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 44(1), 100-102.


VIANA, Fernando André Campos. Estudo comparativo, randomizado para avaliar a eficácia terapêutica da piperazina hexahidratada com extrato fluido de rhaminuspurshiana no tratamento da ascaridiáse. 2007. 158 f. Dissertação (Mestrado em Farmacologia) - Universidade Federal do Ceará. Faculdade de Medicina, Fortaleza, 2007.


Trabalho feito por Francisca Kamila de Oliveira Fontenele e Flávia Letícia Vieira Rodrigues

SLIDES ASCARIDÍASE

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